domingo, 19 de setembro de 2010

Jimi Hendrix mais vivo do que nunca!



Há 40 anos, em meio a circunstâncias ainda obscuras, morria o maior guitarrista de todos os tempos

A exata causa da morte ainda é vaga e uma autópsia deverá ser realizada em Londres em 30 de setembro. Para a polícia, foi uma overdose de drogas, já que, segundo as autoridades, Jimi teria tomado nove tipos de soníferos, morrendo asfixiado em seu próprio vômito, em 18 de Setembro. De acordo com o cantor Eric Burdon, Hendrix, que morreu no apartamento da namorada, Monika Dannemann, deixou um "bilhete de suicídio", um poema de várias páginas, que agora está em sua posse. Burdon foi o último músico com quem Hendrix tocou antes de morrer.

Burdon fala: "O poema tem coisas que Hendrix já vinha dizendo, mas que ninguém escutava. Foi um bilhete de 'adeus' e um de 'olá'. Não acho que Jimi tenha cometido suicídio do jeito convencional, só decidiu ir embora quando quis." Burdon apareceu no canal BBC em 21 de setembro - três dias depois da morte de Hendrix - dizendo que Jimi "se matou". Naquele dia, não mencionou o poema que informou à Rolling Stone dois dias antes. A autópsia deveria ter sido feita em 23 de setembro, mas no dia seguinte à aparição de Burdon na TV foi adiada em uma semana (Burdon se recusa a mostrar o poema).

"Não acredito que tenha sido suicídio", afirma Michael Jeffery, empresário pessoal de Jimi. "Simplesmente não acredito que Jimi Hendrix tenha deixado seu legado para Eric Burdon continuar. Ele era uma pessoa muito peculiar." Hendrix passou a noite de quinta-feira, 17 de setembro, no quarto de Monika Dannemann, uma pintora alemã, no Samarkand Hotel. Ela o encontrou em coma na manhã de sexta-feira e chamou uma ambulância, que chegou ao hotel na Landsdowne Crescent, no bairro de Notinghill Gate, e o levou para o Hospital St. Mary Abbot's, onde foi pronunciado morto na chegada, às 11h45, horário de Londres. A polícia afirma que estavam faltando soníferos em um frasco no quarto de Monika, alugado por ela em meados de agosto por seis semanas e que Hendrix havia tomado algumas pílulas antes de dormir na noite anterior. O restante foi levado como evidência.




Hendrix estava na Europa desde que tocou no Festival da Ilha de Wight, em 30 de agosto. Foi seu primeiro show britânico em dois anos, e a Jimi Hendrix Experience (com Billy Cox no baixo e Mitch Mitchell na bateria) começou quase imediatamente uma turnê no continente. A turnê deveria terminar em Roterdã em 14 de setembro, mas essa data foi cancelada quando Cox sofreu um colapso nervoso e teve de voltar para os Estados Unidos. Noel Redding, baixista original da Experience, estava para sair de Nova York e se juntar ao grupo em Londres quando soube da morte do guitarrista.

Jimi estava hospedado no Hotel Cumberland ao lado da Park Lane desde sua chegada, no mês passado. Deveria ter feito checkout depois da noite de quarta-feira, mas pediu para o gerente lhe reservar mais uma noite. No entanto, não voltou ao hotel na quinta-feira à noite. A última vez em que Hendrix apareceu em público foi na quarta-feira, quando se juntou a Burdon e ao War no palco do Ronnie Scott's Club, em Londres.



"Sabia que ele estava mal há um ano", afirma Burdon. "Ele veio ao clube e perguntou se poderia tocar com a gente na noite seguinte, dia 16. No começo tocou mal, como um amador, usando truques de palco para esconder as deficiências, mas depois fez um solo que foi bom, e a plateia gostou. Ele saiu do palco e voltou, fazendo base para ' Tobacco Road'." Essa foi sua última música.

Há algum tempo, Hendrix vinha tentando se tornar mais independente em relação a seus negócios. Via o estúdio Electric Lady como um passo em direção a esse objetivo. Burdon diz que, uma semana antes de morrer, Jimi lhe contou que arranjaria empresários novos. "Ele reclamou várias vezes dos empresários, reclamou mesmo", conta Buddy Miles, que tocou com Hendrix na Band of Gypsies. "Não vou mentir e dizer que não sei, porque fiquei bastante com ele e o entendia de um jeito que muitos não conseguiam." Ele acrescenta: "Jimi merecia as pouquíssimas coisas que conseguiu, até mais. Quando saí da Band of Gypsies, sei que ele estava extremamente infeliz".

"Ele nunca me disse que queria trocar de empresário", responde Jeffery a essas alegações. "O que aconteceu é que nós dois estávamos nos expandindo em outras áreas, e às vezes ele precisava de muita atenção. Houve uma época em que ele queria expandir o grupo, só que metade da minha energia estava no estúdio e em outras coisas, e eu não tinha tempo para dedicar toda a minha energia para ajudar a aumentar o grupo. Sentíamos que a função tripla de empresário/artista/agente provavelmente desmoronaria, porque os tempos mudaram no show business. Algumas pessoas fora do círculo confundiram isso com descontentamento, mas não era o caso. Jimi era suficientemente inteligente e brilhante. Se ele quisesse terminar, teria feito isso", afirmou Jeffery.

"Ele falava coisas diferentes para todo mundo. Era assim, sempre mudando de ideia", disse Burdon no fim de semana. "Hendrix estava em um poço tão profundo que o único jeito de sair era parar de tocar música e tentar arrumar a bagunça. Mas ele sabia que, sem a música, ficaria destruído de qualquer forma. Percebeu que a única coisa a fazer era continuar tocando e mesmo assim morreu, porque estava sendo tolhido criativamente", completou o cantor.



Você lê esta matéria na íntegra na edição 48, da revista Rolling Stones, setembro/2010


segunda-feira, 26 de julho de 2010

UMA HISTÓRIA BEM BRASILIANA

Projeto digitaliza dezenas de obras da antiga “Coleção Brasiliana” e disponibiliza conteúdo na internet para livre acesso de internautas
 
Pouco depois da Revolução de 1930, no Brasil, o governo federal tratou logo de empreender outra ousada proposta de escrita da história, mas dessa vez algo no sentido literal do termo: a criação de um acervo constituído por obras de referência para a compreensão do país. Políticos, historiadores, filósofos, geógrafos e educadores, todos tiveram seus serviços convocados. Nada mais natural para um Brasil que experimentava um momento de profunda transformação e, por isso, buscava por uma nova interpretação de si mesmo. A "Coleção Brasiliana", como ficou conhecida, foi publicada entre 1931 e 1993. Mas essa história não se encerra aí. Hoje, quase vinte anos depois do encerramento oficial da coleção, uma parceria envolvendo várias instituições está dando nova vida a este importante conjunto de obras sobre o Brasil. O nome desse projeto é "Brasiliana Eletrônica" e seu objetivo é publicar na internet as obras da antiga coleção criada pelo governo Vargas.



O projeto é resultado de um esforço conjunto envolvendo a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Ministério da Educação (MEC), através da Secretaria de Ensino a Distância, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e, finalmente, a Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB). Em sua primeira etapa, logrou-se disponibilizar na rede os textos completos de 20 obras selecionadas entre as 415 que compõem a antológica coleção. No início deste segundo semestre de 2010, o número de obras disponibilizadas já chega a 70. São livros que podem ser acessados na íntegra de maneira fácil e didática


Formatos versáteis
No portal “Brasiliana Eletrônica”, esses livros são oferecidos ao público de dupla forma - como fac-símiles da primeira edição, para serem analisados na feição como vieram à luz, e como textos normalizados e de ortografia atualizada, passíveis de serem editados, selecionados, transcritos e transpostos ("recortados, copiados e colados", no jargão da informática), respeitadas as regras de citação, para estudos, textos, pesquisas e trabalhos escolares e acadêmicos que, felizmente, só fazem crescer no país. Todos os livros foram integralmente digitalizados e submetidos a um programa de reconhecimento ótico de caracteres (OCR).


Dentre as obras digitalizadas, há por exemplo o interessante livro "Os Africanos no Brasil" (1932), de Raimundo Nina Rodrigues. A obra (foto acima) reúne textos deixados pelo autor (1862-1906) e organizados por Homero Pires versando sobre múltiplos aspectos das populações de origem africana no Brasil: procedência, história, religião, folclore, festas, estratificação social, criminalidade. Embora os temas abordados pelo criminalista Nina Rodrigues tenham merecido na atualidade tratamento mais científico, sua contribuição continua a interessar pelo pioneirismo.


No portal, é possível realizar buscas no conteúdo através de palavras-chave e visualizar a segmentação da coleção, segundo áreas do conhecimento. A seção de história é a que possui mais títulos, um total de 23 obras. Segundo os organizadores, a idéia é que o portal se constitua "numa poderosa ferramenta de difusão e democratização de conhecimentos sobre o Brasil, fazendo chegar a amplas camadas da população um portentoso volume de informação e reflexão, até aqui restrito às paredes das bibliotecas."

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Jerusalém: até o semáforo segrega árabes-israelenses e palestinos

Foto AFP


julho 16th, 2010 by mariafro

Imagine um sinal que fica aberto 5 minutos para o tráfico de um determinado grupo étnico e fica aberto alguns segundos para outro grupo étnico. Imaginaram? É uma situação kakfaniana que só cabe em histórias fantásticas, não é? Acho que nem Huxley imaginaria tal situação. Pois ela é real e não é na Faixa de Gaza que é tratada pelo Estado de Israel como lugar de seres menos humanos. Trata-se de Jerusalém onde o Estado sionista controla até mesmo o tempo dos sinaleiros de trânsito!



Leiam a reportagem da Al- Jazeera e vejam que, mesmo pagando impostos, os árabes-israelenses são tratados como não cidadãos.



Jerusalém, o “apartheid de rua”



Mya Guarnieri, Al-Jazeera, Qatar



10/7/2010



Tradução Caia Fittipaldi



Mahmoud Alami, motorista de táxis em Jerusalém, conhece a cidade como a palma da mão. Conhece cada bairro, todas as ruas. E conhece os semáforos. Um dos semáforos, sobretudo, intriga-o muito, não profissionalmente, mas pessoalmente.
Esse semáforo fica entre Beit Hanina, bairro palestino, e Pisgaat Zeev, colônia exclusiva para judeus.
“O sinal fica verde [para os colonos judeus], por cinco minutos. Mas e para sair e entrar em Beit Hanina? Só dois ou três carros conseguem atravessar”, diz Alami. Na direção de Beit Hanina, o sinal fica aberto só por alguns segundos. “Não dá tempo de passar. Por isso, na direção de Beit Hanina, sempre há engarrafamentos-monstro. E ninguém passa.”

Al Jazeera foi conferir: o farol que abre na direção das colônias e bairros exclusivos para judeus permanece aberto por um minuto e meio. Nas áreas palestinas, por 20 segundos. Em todos os casos, o sinal verde, em todas as áreas predominantemente árabes de Jerusalém Leste, fecha em menos de 10 segundos.
“[Os palestinos] vivem engarrafados, sem poder avançar”, diz Amir Daud, também motorista de táxi. “É reflexo da situação terrível em que as pessoas vivem.”

Discriminação no orçamento
Engarrafamentos de trânsito são um dos problemas das áreas de infraestrutura e serviços nas áreas palestinas de Jerusalém. As estradas não recebem qualquer tipo de manutenção. São estreitas e esburacadas. E praticamente não há sinalização de trânsito nas ruas e calçadas.
As latas de lixo são quase sempre comunitárias, e sempre em número menor que o necessário. Os pedestres são obrigados a andar pelos acostamentos, tentando evitar as pilhas de lixo. (…)
O orçamento municipal de Jerusalém é dividido de modo absolutamente desigual. O exemplo mais dramático é o departamento de esportes da cidade: apenas 0,5% dos fundos são alocados nos bairros árabes; 99,5% dos fundos municipais para esportes são alocados nas áreas exclusivas para judeus.

Qualidade de vida
Nisreen Alyan, advogado da Association for Civil Rights em Israel (ACRI), protocolou recentemente junto à Prefeitura de Jerusalém, moção de protesto contra a falta de coleta de lixo no bairro palestino de Tsur Baher, em Jerusalém Leste. Apesar de ali viverem 20 mil palestinos, só 12 ruas têm coleta regular de lixo.
A falta de coleta regular de lixo afeta a saúde e a qualidade de vida, diz Alyan. O lixo atrai cães. Tem havido casos de moradores atacados por cães portadores de raiva. As crianças têm medo de sair à rua.
“Não há áreas de lazer. Não há absolutamente nada para as crianças”, Alyan continua. “As ruas são o único lugar que há, onde se encontram as crianças, o lixo, os carros, os cães contaminados.”
A petição protocolada pela ACRI exige que a prefeitura cumpra seus deveres legais, “nada mais, nada menos”, diz Alyan. “É dever da prefeitura garantir melhores condições de saúde pública aos moradores da cidade – inclusive aos palestinos.”

Alyan já várias vezes levou ao conhecimento das autoridades as condições de vida dos moradores de Tsur Baher em Jerusalém Leste. Mas a prefeitura alega que não pode atender toda a cidade, porque os caminhões coletores de lixo não conseguem manobrar nas vielas estreitas. Alyan lembra que esse não é problema exclusivo dos bairros árabes, mas que, em outras partes de Jerusalém onde as ruas também são estreitas (mas vivem judeus israelenses), a prefeitura encontrou soluções criativas.
Um morador de Tsur Baher explica que as ruas são problemáticas, no bairro árabe, porque ali há poucas ruas.

Enquanto quase todos os demais bairros palestinos de Jerusalém são submetidos a restrições para construir, não há qualquer restrição em Tsur Baher, mas grande parte do território do bairro foi confiscado pela grande colônia exclusiva para judeus que está em construção ao lado do bairro, Har Homa; parte do bairro árabe de Jerusalém está localizada do lado israelense do Muro da Vergonha; e não há qualquer infraestrutura de atendimento à parte deixada do lado palestino.

A falta de vias, ruas e estradas implica que nenhum serviço de emergência pode chegar àquelas ruas. Têm havido casos de crianças mortas em incêndios. E a polícia proíbe a entrada de ambulâncias, nos bairros palestinos, se não for acompanhada por escolta policial; por isso, em muitos casos, os residentes morrem por falta de socorro rápido.
“O problema é que nunca se encontram policiais disponíveis para a escolta”, diz um morador. “A ambulância tem de ficar à espera da escolta, às vezes por meia hora. E os doentes morrem.” “Estamos [a ACRI] preparando outra petição exatamente contra a exigência dessa escolta” – diz Alyan.

Impostos pagos
Alyan diz também que não há semáforos nas ruas de Tsur Baher, em Jerusalém. Preocupados com a segurança das crianças, os moradores coletaram dinheiro entre eles para construir lombadas e obrigar os veículos a reduzir a velocidade.
Em outros bairros palestinos de Jerusalém, os palestinos cotizam-se para pagar serviços de coleta de lixo e varredura das ruas. Tudo isso, apesar de pagarem impostos municipais.
90% dos árabes-israelenses vivem em bairros cercados, separados da população de judeus israelenses. Por causa disso, os judeus israelenses justificam a diferença de tratamento com o argumento de que “as prefeituras e subprefeituras árabes” são pobres e sem recursos. Porque são pobres, dizem os judeus, os árabes não pagariam impostos ou não pagariam taxas suficientes. Assim sendo, seus bairros e vilas não podem esperar gozar dos mesmos serviços de outros bairros nos quais os judeus pagam regularmente seus impostos. É argumento que poderia fazer algum sentido em outras cidades israelenses, mas não em Jerusalém.

Jerusalém é praticamente rachada ao meio, entre áreas exclusivas para judeus e outras nas quais os palestinos são ‘admitidos’. Se se visita Nof Tzion (“Panorama de Sion”), colônia exclusiva para judeus localizada no centro de Jabel Mukhaber, bairro tradicional palestino, as diferenças são óbvias e gritantes.
“Durante muitos anos, não houve rua principal [em Jabel Mukhaber]”, conta Alyan. Depois que construíram a colônia exclusiva para judeus de Nof Tzion, [a prefeitura de Jerusalém] construiu ótima rua lá, com pavimentação e iluminação pública.” Mas a rua só existe dentro da colônia exclusiva para judeus. Daquele ponto em diante, a estrada volta a ser esburacada, sem iluminação, coberta de detritos e sujeira, na área do bairro dos palestinos.

É evidente que se trata da mesma prefeitura. E é ato da prefeitura beneficiar só os israelenses judeus que vivem em Jerusalém. O que não implica que os palestinos de Jerusalém não tenham importância alguma para a prefeitura de Jerusalém. De fato, são importantíssimos, porque pagam impostos, exatamente como os judeus israelenses que também vivem em Jerusalém.

“Os palestinos são obrigados a pagar seus impostos municipais, mesmo que não recebam quaisquer serviços públicos da Prefeitura de Jerusalém”, Alyan explica, “porque o recibo dos impostos pagos é o único documento que eles têm para provar a propriedade de suas casas. E quem não tiver casa em seu nome, perde o direito de residir em Jerusalém. Sem direito de residir onde sua família reside há séculos, os palestinos tornam-se cidadãos sem Estado, sem cidadania, refugiados.”

“Os palestinos residentes em Jerusalém desesperam-se mais para conseguir dinheiro para pagar os impostos municipais, do que para alimentar os filhos”, diz Alyan.
As subprefeituras de Tsur Baher e a vizinha Umm Tuba pagam aproximadamente 7 milhões de dólares anuais em taxas e impostos, a uma prefeitura para cuja eleição não podem votar.

‘Guerra psicológica’
Yousef Jabareen, diretor do Dirasat, Centro Árabe de Direito e Política, explica que os serviços públicos recebem também subsídios nacionais. E aí está outro ponto de desigualdade.
Jabareen lembra que o programa “Prioridade Nacional” distribui incentivos governamentais para áreas selecionadas. Quando o programa foi implantado, em 1998, 500 colônias exclusivas para judeus e cidades israelenses receberam status de prioridade nacional. Os palestinos são cerca de 20% da população de Israel e constituem metade da população mais pobre; apesar disso, só quatro cidades israelenses de maioria árabe foram incluídas no programa nacional.
“É mais um exemplo clássico de o quanto é discriminatória a alocação de recursos governamentais”, diz Jabareen. E, diz ele, também há graves desigualdades no sistema educacional público.

Tudo – das condições da infraestrutura que está em ruínas, até a total ausência de serviços públicos – contribui para que os palestinos de Jerusalém sintam-se rejeitados e desconectados, diz Jabareen.
“É um sentimento de frustração, de desenraizamento, de não pertencer a lugar algum (…). Os palestinos sentimos como se, em Jerusalém, o governo e o Estado existissem para nos excluir, como se não fôssemos seres humanos.”

Pode-se dizer que as desigualdades que se observam em Jerusalém e as diferenças de tratamento pelo governo e pelo Estado israelenses caracterizam situação de apartheid?
“Em várias áreas, não há dúvida que há características de apartheid, o que gera graves preocupações sobre o futuro das pessoas”, diz Jabareen.

Para um jovem israelense, judeu, que acaba de prestar o serviço militar obrigatório, a coisa é simples: “É guerra psicológica. A ideia é conseguir que os palestinos saiam daqui.”

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Essa turma soube vencer!

Nesta foto: Luiz Henrique Rodrigues, fileira de cima: Carlos César, Silvânia, Douglas, Patricia Rodine,Paulo, Seu Edilson, Marcelle Pride, Ellen Santana,Viviane em baixo: Pascoalina, Priscila Araujo, Mirena Ferraz, Dafne Fodra, Fernanda Luiza, Fernanda Silva, Pedro Gabriel.

Turma de História UNG-Campus Dutra/Guarulhos, começamos em agosto de 2007, eram mais ou menos 38 pessoas com o sonho de fazer a graduação em História. Os semestres foram se passando, as pessoas se conhecendo e a sala esvaziando. Terminamos o curso em junho de 2010, da turma inicial ficaram dezoito pessoas que acreditaram que podiam vencer essa etapa e partir para outras mais emocionantes ainda, afinal, muitos aprenderam que são cidadãos do mundo e que podem voar com liberdade por ai afora.

Aos professores o meu agradecimento, não é fácil ser mestre em um país onde a falta de respeito com os educadores e educandos se tornou política de estado.

A todos um forte abraço e Axé na nova vida!!!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Futebol: patrimônio cultural do povo brasileiro



O ano da graça de 2010 começou atípico, com o Santos Futebol Clube resgatando o que de melhor o nosso futebol pode produzir, futebol criado por negros, afro-brasileiros, de dribles, fintas, muita habilidade, criatividade, jogadas bonitas do coletivo e muitos gols que mexeu e está encantando os torcedores de todos os times.


Mas a coisa não é tão fácil assim, a mídia esportiva brasileira, têm feito severas críticas a esse estilo de jogo e desanca a falar mal dos jogadores e criticando esse estilo de jogo como pouco competitivo.


No fundo o conservadorismo que assola a classe média brasileira, mostra sua face também no esporte, e isso tem se refletido na crítica esportiva que adora elogiar os sem talentos, os botinudos, mas, que tem a cobertura de empresários, a força física, o jogo faltoso como recurso legitimo para parar o adversário, as goleadas de 1 x 0, em detrimento da arte apresentada por jogadores jovens e negros, que em sua maioria saem das periferias das cidades e ainda guardam um grande talento e criatividade, herdada desse patrimônio confeccionado nos campos de várzea de todo o país, sobretudo na primeira metade do século XX.


Inevitavelmente alguns desses garotos que se destacam ganharão muito dinheiro jogando para as platéias do velho mundo, aonde esse tipo de futebol ainda é apreciado, exatamente pela falta de pé de obra especializada.



Copa do Mundo


Tem se mostrado um futebol decepcionante nessa primeira fase, mesmo assim a imprensa esportiva insiste em eleger verdadeiros monstros que iriam engolir a nossa seleção.


O que tenho visto é um festival de anti-futebol, exceto o que as seleções, brasileira e argentina têm mostrado e a grata surpresa, a Alemanha, jogando um futebol anti-alemão, por isso se destacando entre os melhores. Brasil e Argentina ainda conseguem manter um celeiro de grandes atletas e talentos para produzir o melhor futebol do mundo, a despeito das críticas feitas aos jogadores e a seus técnicos, Dunga e Maradona.


Mas a grande decepção fica a cargo das seleções africanas, que preferiram investir em força física e no estilo europeu de jogar bola. Lamentável – como disse Tostão no seu artigo da Folha; “Um dos motivos dessa transformação foi à importação de dezenas de treinadores europeus. As seleções africanas parecem times europeus da segunda divisão. Os africanos perderam a fantasia e não evoluíram na parte técnica. Não sabem finalizar. No momento do chute, estão sempre com o corpo desequilibrado. Chutam e caem. Parece com alguns jogadores que atuam no Brasil, como Dagoberto. No instante da finalização, os grandes atacantes estão sempre a uma distância correta da bola, com o corpo ereto e com a perna de apoio no chão e ao lado da bola. Chutam, não caem e acertam o gol”.


Pois é, os países africanos apesar de independentes precisam evoluir e muito, desperdiçam riquezas, enormes talentos e criatividade, precisam tirar a colônia e a submissão aos europeus da cabeça e trabalhar intercâmbios com jogadores e técnicos sul-americanos, para desenvolver técnica e deixar a explosão de criatividade africana deslanchar como o artilheiro de Jorge Bem Jor, “UMBABARAÚNA, o ponta de lança africano.


Com toda certeza vão poder desenvolver o melhor do futebol em seus talentos e gerar muito mais riquezas com seus atletas se renunciarem ao estilo do colonizador.


Mas se tratando de mudanças precisamos cobrar também mais compromissos de nossos atletas, dirigentes e técnicos. A experiência de viver na Europa democrática deve ser assimilada, alguns atletas já se posicionam de maneira cidadã, buscando trabalhar com comunidades carentes e criando uma rede de proteção aos jovens, vide os casos de Cafu, Edmilson, Ronaldinho Gaúcho entre outros. Mas é preciso muitos mais, está na hora de se posicionarem politicamente, exercerem a cidadania, o exemplo tão pedido dentro das quatro linhas tem de servir fora delas também quando terminam suas carreiras.

Em um mundo todo conectado é bom lembrar e acompanhar um desses exemplos; o craque da Costa do Marfim, Didier Drogba junto com Kofi Annan, diplomata de Gana e ex-secretário geral da ONU, assinaram um guia alternativo para falar sobre a Copa do Mundo na África do Sul e a importância dela para os povos dos países pobres e emergentes.


Confira:
http://www.didierdrogba.com/en/article.asp?info_id=5869
http://www.africaprogresspanel.org/worldcup/APP_World_Cup_2010_Guide_June_7_Final_OK.pdf


quarta-feira, 23 de junho de 2010

O Estatuto da Igualdade Racial foi aprovado


Após dez anos tramitando no congresso nacional o Estatuto da Igualdade Racial, ou o que sobrou dele foi votado em um acordo de lideranças e a SEPPIR. O Movimento Negro está fazendo muito barulho, a maioria está crucificando os parlamentares e a SEPPIR pelo acordo feito, são poucos os que entenderam a conjuntura que estamos vivendo, a mais favorável pra nós desde a abolição.

Se não chegamos mais adiante, depois de 122 anos de “Liberdade” é, porque ainda não fomos capazes de mobilizar a sociedade a respeito do tema. Nos falta ainda melhor organização, mobilização e comunicação em todos os setores onde os afrodescendentes estão presentes.

A aprovação do Estatuto é um marco legal, com esse ato o Congresso Nacional admitiu que existe prática de racismo no Brasil, esse instrumento legal vai nos dar condições de continuar a lutar e aprofundar cada vez mais a discussão, o diálogo com a sociedade e ampliar as conquistas.

A luta hoje tem de ser travada no quesito “participação na economia do país”, se não temos grandes industriais, ou grandes comerciantes ou grandes empresários do sistema financeiro, temos com certeza absoluta, centenas de milhares de micro e pequenos empresários que atuam na legalidade e na informalidade e contribuem para a criação de emprego e geração de renda. É por ai que vamos crescer, pressionando os governos para reivindicações de crédito barato, menos burocracia, menos impostos e políticas publicas para setores da economia onde a micro e pequena empresa tem atuação decisiva para o desenvolvimento econômico.

O governo do presidente Lula resgatou da pobreza 32 milhões de brasileiros e elevou-os para a classe C, podemos afirmar que, pelo menos 28 milhões desses eram afro-descendentes e caboclos e que não querem mais voltar para onde estavam. O que fazer então?

A nós cabe continuar a luta no parlamento e fora dele, lutando por políticas públicas para a educação, saúde, esporte e cultura, com incentivos e créditos realistas para a micro e pequena empresa, ajudando e fortalecendo novas organizações que tenham uma visão mais ampla e mais profunda da democracia liberal burguesa que estamos criando no trópicos.

legenda da Foto: Minha Avó Maria e seu companheiro

Salvador Luiz de Paula, nasceu na cidade de Santos, em 08 de Dezembro de 1851, completando 82 anos neste anno de 1933 e sua senhora Dona Maria Barbosa de Paula, nasceu na Bahia, na cidade de São Salvador, em 13 de maio de 1866, completando neste anno de 1933, 67 annos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

LULA AQUELE QUE NÃO ENTENDE DE "BULHUFAS" DE NADA!

Lula, que não entende de sociologia, levou 32 milhões de miseráveis e pobres à condição de consumidores; e que também não entende de economia; pagou as contas de FHC, zerou a dívida com o FMI e ainda empresta algum aos ricos. Lula, o analfabeto, que não entende de educação, criou mais escolas e universidades que seus antecessores juntos [14 universidades públicas e estendeu mais de 40 campi], e ainda criou o PRÓ-UNI, que leva o filho do pobre à universidade [meio milhão de bolsas para pobres em escolas particulares].


Lula, que não entende de finanças nem de contas públicas, elevou o salário mínimo de 64 para mais de 291 dólares [valores de janeiro de 2010], e não quebrou a previdência como queria FHC. Lula, que não entende de psicologia, levantou o moral da nação e disse que o Brasil está melhor que o mundo. Embora o PIG - Partido da Imprensa Golpista, que entende de tudo, diga que não.

Lula, que não entende de engenharia, nem de mecânica, nem de nada, reabilitou o Proálcool, acreditou no biodiesel e levou o país à liderança mundial de combustíveis renováveis [maior programa de energia alternativa ao petróleo do planeta]. Lula, que não entende de política, mudou os paradigmas mundiais e colocou o Brasil na liderança dos países emergentes, passou a ser respeitado e enterrou o G-8 [criou o G-20].

Lula, que não entende de política externa nem de conciliação, pois foi sindicalista brucutu; mandou às favas a ALCA, olhou para os parceiros do sul, especialmente para os vizinhos da América Latina, onde exerce liderança absoluta sem ser imperialista. Tem fácil trânsito junto a Chaves, Fidel, Obama, Evo etc. Bobo que é, cedeu a tudo e a todos.

Lula, que não entende de mulher nem de negro, colocou o primeiro negro no Supremo (desmoralizado por brancos) uma mulher no cargo de primeira ministra, e que pode inclusive, fazê-la sua sucessora. Lula, que não entende de etiqueta, sentou ao lado da rainha (a convite dela) e afrontou nossa fidalguia branca de lentes azuis.

Lula, que não entende de desenvolvimento, nunca ouviu falar de Keynes, criou o PAC; antes mesmo que o mundo inteiro dissesse que é hora de o Estado investir; hoje o PAC é um amortecedor da crise. Lula, que não entende de crise, mandou baixar o IPI e levou a indústria automobilística a bater recorde no trimestre [como também na linha branca de eletrodomésticos].

Lula, que não entende de português nem de outra língua, tem fluência entre os líderes mundiais; é respeitado e citado entre as pessoas mais poderosas e influentes no mundo atual [o melhor do mundo para o Le Monde, Times, News Week, Financial Times e outros...].

Lula, que não entende de respeito a seus pares, pois é um brucutu, já tinha empatia e relação direta com George Bush - notada até pela imprensa americana - e agora tem a mesma empatia com Barack Obama.

Lula, que não entende nada de sindicato, pois era apenas um agitador; é amigo do tal John Sweeny [presidente da AFL-CIO - American Federation Labor - Central Industrial Congres - a central de trabalhadores dos Estados Unidos, que lá sim, é única...] e entra na Casa Branca com credencial de negociador e fala direto com o Tio Sam lá, nos "States".

Lula, que não entende de geografia, pois não sabe interpretar um mapa é autor da [maior] mudança geopolítica das Américas [na história].

Lula, que não entende nada de diplomacia internacional, pois nunca estará preparado, age com sabedoria em todas as frentes e se torna interlocutor universal.

Lula, que não entende nada de história, pois é apenas um locutor de bravatas; faz história e será lembrado por um grande legado, dentro e fora do Brasil.

Lula, que não entende nada de conflitos armados nem de guerra, pois é um pacifista ingênuo, já é cotado pelos palestinos para dialogar com Israel. Lula, que não entende nada de nada; é bem melhor que todos os outros...!

Pedro Lima

Economista e professor de economia da UFRJ

DESCULPE OS NAO-LULAS, MAS COMO RECEBO MUITOS EMAILS

IRONIZANDO, DEBOCHANDO E FALANDO HORRORES DELE ACHO

QUE TENHO O DIREITO DE ENVIAR UM UNICO EMAIL QUE

FALE BEM DESSE "ANALFABETO".

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Dilma defende cotas raciais e diplomatas negros no Itamaraty


A pré-candidata à presidência pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, defendeu nesta sexta-feira (14) a continuidade de políticas raciais afirmativas, com a adoção de cotas em universidades e uma maior formação de diplomatas brasileiros negros.


"O que nos une é o compromisso de que isso vai continuar, que vamos continuar fazendo políticas afirmativas e de cotas, queiram eles (oposição) ou não queiram", disse a ex-ministra da Casa Civil, defendendo ainda maior empenho dos governantes em políticas de cunho social para a população negra.

"Quando tiramos 24 milhões da miséria, sabemos que outros ficaram na miséria e na pobreza e que temos que assumir compromisso com o fim da miséria nessa década. Entre os pobres está um contingente enorme da população negra, e isso não podemos aceitar", afirmou a pré-candidata, que participou do Encontro Nacional de Negros e Negras do PT e cobrou maior formação de diplomatas negros.

"Temos de ter negros no Itamaraty e esse é um compromisso do presidente Lula, que fez a política mais afirmativa. O Brasil estava voltado de costas para a África desde a época do trafico negreiro. Fizemos muita coisa. Não é o suficiente porque são séculos e séculos de desatenção e descaso", afirmou, completando: "o movimento negro tem que procurar políticas permanentes”.

Sem citar nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Dilma destacou que o País vivia uma situação de "estagnação", "sem espaço e condições" de melhoria da população pobre. O mesmo teor de críticas a FHC foi utilizado no programa partidário petista que foi ao ar em dezembro do ano passado e se tornou ontem alvo de multa por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

"O Brasil construiu condições que são muito importantes para que uma parte expressiva da nossa população tenha mobilidade, (...) que as pessoas possam mudar de vida, não ter mais aquela obrigação de ficar sempre estagnado em um determinado momento. Ate o início de 2003 (havia) estagnação, desemprego, desigualdade e sem espaços e sem muitas condições para tecer e armar nossa luta. O presidente Lula construiu um novo momento de prosperidade, e o Brasil abriu um caminho pelo qual sua população pode trilhar e ter certeza que podemos transformar esse País em uma grande nação", disse Dilma.

"Isso não vai parar, vamos levar isso à frente. Se o Brasil mudou, mudou porque tivemos a capacidade de construir as condições para ele mudar", destacou a pré-candidata do PT.

Xadê Omim Ofá

(Cristiano Lima)



Membro do Coletivo Estadual

de Combate ao racismo do

PT/ AE- BA

Axogum de Oxum Ilê Axê Omim Ofa.

Filiado A CONEN- Coordenação Nacional de Entidades Negras.

"Unidade na Divercidade"

terça-feira, 18 de maio de 2010

Seminário para a Copa do Mundo de 2014 marca gol de placa


Idealizado e coordenado pelo deputado Vicente Cândido, presidente da Comissão de Esporte e Turismo, o Seminário Internacional da Copa do Mundo de 2014, realizado em fevereiro de 2010, mostrou a força do parlamento paulista. Ao promover esse encontro à Assembleia legislativa resgatou seu papel de centro dos debates políticos, das discussões sobre políticas públicas e do legado de transformações positivas que o evento pode deixar para o Estado de São Paulo.

Com a presença do poder público Federal, Estadual e Municipal, FPF, CBF, Conmebol e FIFA foram debatidos durante três dias as medidas administrativas e políticas que precisam ser tomadas para que o evento da Copa do Mundo seja um sucesso, bem como o papel do Legislativo nesse contexto.

http://www.vicentecandido.com.br/

Todavia, ela tem de ser realizada com transparência, com conforto, organização, segurança, dentre outras providências do poder público e da iniciativa privada. Será uma grande oportunidade de alavancar o desenvolvimento econômico e social através de grandes investimentos na infraestrutura das cidades, sobretudo nas áreas do transportes coletivo, aeroportos, segurança pública, trânsito, saúde, telecomunicações, turismo e rede hoteleira.

Para isso é preciso que o parlamento e a sociedade organizada se integrem para discutir problemas estruturais históricos, se manifestem e proponham políticas públicas para além de construir estádios e cumprir demandas pontuais. O desafio futuro é que toda mobilização feita deixe um legado social para a maioria da população das cidades onde ocorrerem o evento.

Os jogadores Ronaldo Fenômeno, Carlos Alberto Torres, e Edmilson foram homenageados durante o evento. Com um público médio de 300 pessoas em cada dia o Seminário mostrou que o esporte nesta década terá papel determinante para alavancar as transformações sócio-econômicas em nosso país.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Candomblé, Cultura e História



Com o trafego negreiro chegaram ao Brasil africanos escravizados, com eles não só vieram a mão de obra especializada para o trabalho forçado, trouxeram também a uma personalidade, a sua maneira de ser, de se comportar e as suas crenças e cultos. Orixás, Inquices e Voduns.

“As convicções religiosas dos escravos eram, entretanto colocadas a duras provas quando de sua chegada ao Novo Mundo, onde eram batizados “obrigatoriamente” para a salvação de sua alma e deviam-se curvar às doutrinas religiosas de seus mestres” (Orixás, pág. 23 – Pierre Verger)

Mas a extraordinária resistência oposta pelas culturas africanas, contra as forças de alienação e de extermínio, surpreende a todos até hoje. Os africanos vindos de várias regiões da África ocidental tinham em seus grupos mais elaborados o culto de orixás, inquices e voduns, que tinham acima deles a energia suprema de “Olodum Maré”. Segundo os Iorubas, ele criou os orixás para serem intermediários entre os homens e ele, uma energia distante inacessível e indiferente as preces e ao destino dos homens. Portanto está fora da compreensão humana. Não existindo um culto específico a ele.

Na África o culto dos orixás era totêmico e familiar. Isso quer dizer, que numa localidade predominava um único orixá, que cuidava da cabeça de todos do grupo, da família da tribo. Ex. Iemanjá, então todos daquela aldeia ou cidade eram filhos de Iemanjá. Assim por diante em outras regiões e localidades, um orixá não pisava na terra de outro orixá.

Mas com o cativeiro da escravidão o negro africano teve de elaborar a sua resistência não só em grupo, mas também pessoal. Aqui cada indivíduo passou a ter e cultuar o seu próprio orixá.

Por volta de 1839, o reino de Oyó foi ocupado e destruído por árabes e hauças, etnia africana islamizada. A corte de Oyó chega ao Brasil fugida, trazendo uma princesa, Yia Nassô, que junto a outras mulheres de seu reino, Yia Kala e Yia Deka, se interam das condições culturais e religiosas dos africanos na Bahia. E logo depois fundam a primeira casa de candomblé em salvador, a Casa Branca. Reunindo várias culturas e dando o formato à cultura de raiz Keto, nação religiosa Jeje-Nagô, que se conhece até hoje no Brasil. Cultura de resistência afro-brasileira.

A religião dominada por muito tempo pelos africanos tem como centro de existência a natureza, sem ela não existe orixá. Influenciou a cultura religiosa e a cultura profana, do povo brasileiro, culinária, música, dança, costumes, língua e manifestações culturais de vários tipos em todo território nacional.





AO PÚBLICO E AO POVO DO CANDOMBLÉ

Candomblé não é uma questão de opinião. É uma realidade religiosa que só pode ser realizada dentro de sua pureza de propósitos e rituais. Quem assim não pensa, já de há muito está desvirtuado, e por isso podem continuar sincretizando, levando Iaôs ao Bonfim, rezando missas, recebendo os pagamentos, as gorjetas para servir ao pólo turístico baiano, tendo acesso ao poder, conseguindo empregos, etc.

Não queremos revolucionar nada, não somos políticos, somos religiosos daí nossa atitude ser de distinguir, explicar, diferençar o que nos enriquece, nos aumenta, tem a ver com nossa gente, nossa tradição e o que se desgarra dela, mesmo que isto esteja escondido na melhor das aparências. Enfim, reafirmamos nossa posição de julho passado, deixando claro que de nada adiantam pressões políticas, da imprensa, do consumo, do dinheiro, pois o que importa não é o lucro pessoal, a satisfação da imaturidade e do desejo de aparecer, mas sim a manutenção da nossa religião em toda a sua pureza e verdade, coisa que infelizmente nesta cidade, neste país vem sendo cada vez mais ameaçada pelo poder econômico, cultural, político, artístico e intelectual. Vemos que todas as incoerências surgidas entre as pessoas do Candomblé que querem ir à lavagem do Bonfim carregando suas quartinhas, que querem continuar adorando Oyá e Santa Bárbara, como dois aspectos da mesma moeda, são resíduos, marcas da escravidão econômica, cultural e social que nosso povo ainda sofre.

Desde a escravidão que preto é sinônimo de pobre, ignorante, sem direito a nada a não ser saber que não tem direito; é um grande brinquedo dentro da cultura que o estigmatiza, sua religião também vira brincadeira. Sejamos livres, lutemos contra o que nos abate e nos desconsidera contra o que só nos aceita se nós estivermos com a roupa que nos deram para usar. Durante a escravidão o sincretismo foi necessário para a nossa sobrevivência, agora em suas decorrências e manifestações públicas: gente de santo, Iyalorixás, realizando lavagem nas igrejas, saindo das camarinhas para as missas etc, nos descaracteriza como religião, dando margem ao uso da mesma como coisa exótica, folclore, turismo. Que nossos netos possam se orgulhar de pertencer à religião de seus antepassados, que ser preto, negro, lhes traga de volta a África e não a escravidão.

Esperamos que todo o povo do Candomblé, que as pequenas casas, as grandes casas, as médias, as personagens antigas e já folclóricas, as consideradas Iyalorixás, ditas dignas representantes do que se propõem, antes de qualquer coisa considerem sobre o que está falando, o que estão fazendo, independente do resultado que esperam com isto obter.

Corre na Bahia a idéia de que existem quatro mil terreiros; quantidades nada expressam em termos de fundamentos religiosos embora muito signifiquem em termos de popularização, massificação. Antes o pouco que temos do que o muito emprestado.

Deixamos também claro que nosso pensamento religioso não pode ser expressado através da Federação dos Cultos Afros ou outras entidades congêneres, nem por políticos, Ogãns, Obás ou quaisquer outras pessoas que não os signatários desta.

Todo este nosso esforço é por querer devolver ao culto dos Orixás, à religião africana a dignidade perdida durante a escravidão e processos decorrentes da mesma: alienação cultural, social e econômica que deram margem ao folclore, ao consumo e profanação da nossa religião.

Salvador, 12 de agosto de 1983

Assinaram:

Menininha do Gantois - Iyalorixá do Axé Ilé Iya Omin Iyamassé
Stella de Oxossi - Iyalorixá do Ilé Axé Opô Afonjá
Tete de Yansã - Iyalorixá do Ilé Nasso Oke
Olga de Alaketo - Iyalorixá do Ilé Maroia Lage
Nicinha do Bogum - Iyalorixá do Zogodô Bogum Malê Ki-Rundo

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Legião Negra

A “Legião Negra” foi um grupamento militar formado exclusivamente por homens negros integrados ao exército paulista que lutaram durante a Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo. Pouco se falou ou se sabe da Legião Negra depois da Revolução de 1932, da mesma maneira, também há poucos registros sobre o destino de um terço dos soldados constitucionalistas negros.

Pós-Abolição

O negro desde sua chegada ao Brasil buscou através de sua organização e mobilização a liberdade tirada pela escravidão, sempre buscou sua inserção na sociedade brasileira seja ela colonial ou republicana, sempre buscou participar de todos os processos políticos e sociais, enfim, sempre quis ser cidadão brasileiro de forma plena. Mesmo porque o sonho de retorno a África estava muito distante da realidade vivida, os laços com os antepassados se encontraram com outras nações, etnias e raízes numa circularidade cultural que tinha sua prática nos “egbes”.

Os “homens de cor” como eram denominados os negros, afrodescendentes, nas primeiras décadas do século XX, buscavam melhorar a auto-estima de seu povo e se organizavam para falar sobre e para si mesmos. Não se conformavam com a República das oligarquias, que os excluiu do processo liberal democrático. Queriam ter acesso há direitos de cidadania, a democracia e a nacionalidade, e, participar ativamente dos destinos da nação.

A historiografia tradicional praticamente ignora a participação do negro enquanto agente histórico ativo em muitos episódios marcantes que fizeram a história do Brasil. Desde a abolição até a primeira metade do século XX, intelectuais negros buscaram consolidar um projeto de inserção social da população negra mediante os discursos de nação republicana.

Para as entidades negras que surgiram na pós-abolição dentro de um contexto excludente do processo político brasileiro, não se tratava apenas escolher entre a "esquerda ou à direita", não se contentavam com uma "cidadania meia boca e doada", não desejavam apenas debater os problemas do povo negro, buscaram interferir, definir soluções para construir uma sociedade onde a inclusão do povo negro fosse à grande prioridade.

As associações e entidades focadas na discussão racial buscavam mobilizar e organizar os negros. Setores do movimento negro avaliavam nas suas inserções, as demandas, normas de comportamento, estratégias, atuação e difundiam idéias. Dialogavam entre si e com outros segmentos sociais. Por volta de 1910, já se tentava criar a Federação dos Homens de Cor com o médico Assis Correia e o cirurgião-dentista José Fernandes Rosa ambos negros. Nos anos 1920, era comum a presença de oradores negros nas lutas sindicais, nos debates com os imigrantes, principalmente durante as comemorações do 1° de Maio.

Reuniam-se em associações como a Frente Negra, fundada em 1931, que oferecia aos associados serviços médicos, odontológicos e hospitalares, mantendo em funcionamento escolas, creches, farmácias e ambulatórios além de lutar por empregos e monumentos.

A Frente Negra Brasileira (FNB) talvez maior e mais influente organização negra do século XX, não foi criada da noite para o dia; ela foi resultado do acúmulo de experiência organizativa dos negros na pós-Abolição. Artur Ramos observa que o "espírito associativo" do negro marcou sua trajetória no país. Desde a escravidão, esse segmento populacional desenvolveu diversas formas de organização coletiva. Até a Abolição, foram criados grupos ou associações de caráter religioso, cultural e socioeconômico representados por quilombos, confrarias, irmandades religiosas, caixas de empréstimos, etc. (Ramos, 1938).

No período da pós-Abolição (transição do século XIX para o XX), os negros criaram diversas associações em São Paulo: grêmios recreativos, sociedades cívicas e beneficentes. A maioria delas possuía estatuto e era conduzida por um presidente, auxiliado por uma diretoria escolhida através de eleições. As associações negras mantinham uma ativa vida social, muitas delas se reuniam diariamente. A maioria tinha como eixo central de atuação garantir o lazer de seus afiliados, principalmente por meio dos bailes dançantes. As associações negras cumpriam, fundamentalmente, o papel de produtoras de uma identidade específica, de um "nós", negros, em oposição a "eles", brancos.

Algumas associações publicavam jornais e mantinham uma diretoria de "damas", como era o caso do “O Kosmos e da Sociedade 15 de Novembro”. Quatro delas eram formadas estritamente por mulheres, a Sociedade Brinco das Princezas, o Grêmio Recreativo Rainha Paulista, o Grêmio Recreativo 8 de Abril e o {...}

De 1897 a 1930, existiram 85 associações negras funcionando na cidade de São Paulo – 25 dançantes, 9 beneficentes, 4 cívicas, 14 esportivas, 21 grêmios recreativos, dramáticos e literários, além de 12 cordões carnavalescos (Domingues, 2004:329). Esses números são indicadores da capacidade de mobilização da comunidade negra na época. Praticamente em todo período da Primeira República (1889-1930) há vestígios da existência de grupos negros funcionando em São Paulo, porém é a partir do início do século XX que ocorreu sua expansão. Dentre os diversos grupos que surgiram até 1930, o Centro Cívico Palmares foi a mais importante, quer pela proposta de elevação política, moral e cultural querem pelo grau de organização e capacidade de penetração na comunidade negra.

Na década de 1920, apareceu em São Paulo o que se denominou "imprensa negra": jornais publicados por negros e voltados para suas questões. Um importante jornal da imprensa negra foi o Progresso, fundado em 1928, quando os negros decidiram comemorar o centenário de nascimento de Luís Gama, inaugurando uma herma no Largo do Arouche. Dirigido por Lino Guedes e Argentino Celso Wanderley, o Progresso tinha como metas "exaltar e valorizar o negro e voltar suas reivindicações contra o preconceito de cor" (Ferrara, 1986:197).

O principal jornal da imprensa negra durante o período da Primeira República foi O Clarim da Alvorada, fundado em 1924 por José Correia Leite e Jaime de Aguiar. Ele surgiu como um órgão "literário, noticioso e humorístico". No entanto, no final da década de 1920, o subtítulo do jornal já sinalizava que o órgão não se debruçaria apenas sobre temas "literário, noticioso e humorístico", mas se tornou um "Legítimo órgão da mocidade negra de São Paulo. Pelo interesse dos homens pretos. Noticioso, literário e de combate", ou seja, um instrumento de luta contra a discriminação racial (O Clarim da Alvorada, 09/06/1929).

Revolução Constitucionalista 1932

Os negros acreditaram naquele momento que a revolução daria oportunidade para se organizarem através de suas entidades, e almejar um lugar ao sol, lutando por mais espaço político, direitos, proteção, prosperidade e uma sociedade justa, sem o ranço do preconceito.

A Frente Negra Brasileira (FNB) não aderiu à revolução, no entanto, liberou seus integrantes que não se acovardaram, mesmo diante de uma conjuntura que era desfavorável a eles naquele momento e foram à luta. A Legião Negra inverteu a ordem vigente quebrando paradigmas e colocou na pauta das disputas entre as elites, o discurso da legalidade e as questões de cidadania, nacionalidade, e democracia. Antevendo a possibilidade de ver a situação mudada com a Revolução de 30, os negros entusiasmaram-se e passaram a encará-la como a solução de todos os seus males. Na fase revolucionária os negros estavam contentes. Podia mesmo ser observado, entre eles, um espírito vingativo: a situação de ver aqueles velhos homens da política perder a posição dominante. (Negros e política p. 56)

Entre os que apoiaram abertamente Getúlio Vargas está parte integrante da direção da FNB. Demonstrações mais veementes desse apoio eram feitas através do À Voz da Raça. (Antevendo a possibilidade de ver a situação mudada com a Revolução de 30, os negros entusiasmaram-se e passaram a encará-la como a solução de todos os seus males. Na fase revolucionária os negros estavam contentes. Podia mesmo ser observado, entre eles, um espírito vingativo: a situação de ver aqueles velhos homens da política perder a posição dominante. (Negros e política p. 56)

Entre os que apoiaram abertamente Getúlio Vargas está parte integrante da direção da FNB. Demonstrações mais veementes desse apoio eram feitas através do À Voz da Raça. (Negros e política p. 57)

A inserção do negro como cidadão na sociedade brasileira pós-1930 deveria começar por seu direto posicionamento político e ideológico. “Entrar em cena” dependia da definição das possibilidades de alianças e apoios. Assim, imaginava-se ver tal cidadão contemplado pelas propostas debatidas no ambiente revolucionário que envolvia os primeiros anos da década, mas, não na posição de simples espectador. Tanto a propaganda da direita quanto a da esquerda conclamava a aliança popular apoiada na tese da necessidade de uma radical transformação na estrutura social, motivo do atraso e da miséria do país. (Negros e política p. 61)

O que importa destacar é que efetivamente os temas da raça e da revolução, mesmo que sob diversas roupagens, constituem os debates políticos do período, seja no discurso que enfatiza a Nação através de inúmeros símbolos patrióticos, seja nos projetos que investem numa revolução resultante dos embates entre classes sociais antagônicas. (Negros e política p. 62)

Soldados da raça e a revolução da Legião Negra

Em 1932, eclodiu em São Paulo a Revolução Constitucionalista, clamando pelo cumprimento da Constituição e se insurgindo contra os novos arranjos das elites oposicionistas na pós-Revolução de 30. Em meio à mobilização dos mais variados setor da sociedade paulistana surgiu na Legião Negra. Foi instalado na chácara do Carvalho, na Alameda Eduardo Prado nº 69, na Barra Funda. (Negros e política p. 67)

A Legião Negra lutou durante o movimento constitucionalista de 1932, em várias frentes de batalha. Sua criação e atuação tiveram vários significados, com desdobramentos até os anos 40. Poucos meses depois de seu surgimento, foi inaugurado, na própria Chacará, o Serviço de Assistência e Proteção dos Soldados da Legião negra, contando com a presença de representantes do governo, das Forças Armadas e da sociedade paulistana. A Legião contava então com quase dois mil “combatentes da valorosa raça”.

Mas quem dera início à Legião Negra? Quais os seus objetivos? Consta que seu principal idealizador e comandante civil era o Dr. Joaquim Guaraná de Sant’Ana, um integrante da FNB. Mais tarde o cargo foi ocupado pelo Dr. José Bento de Assis, professor do "Ginásio Estadual de Campinas e conhecido latinista, sendo então considerado “um dos mais ilustres representantes da raça negra”. Foi destinado comandante militar o capitão branco Gastão Goulart, que no pós-1932 foi ironicamente classificado pelas próprias lideranças negras como “Capitão Veterinário”. Ao que se sabe o comando militar mais direto ficou com o tenente Arlindo Ribeiro, oficial negro do corpo de Bombeiros paulistano. Seu efetivo chegou a ter 1.600 soldados, entre homens e mulheres. (Negros e política p. 71)

O sentido de pertencimento e integração evocava tanto o desejo de ser reconhecido como a explicitação da desigualdade. Cumprir a lei, a Constituição, era o primeiro passo para garantir aquilo que ela não deveria permitir: desigualdade entre brancos e negros. (Negros e política p. 73)

Em 1932, as “classes de cor”, para serem reconhecidas, tinham que se transformar em “soldados”. (Negros e política p. 75)

A derrota dos constitucionalistas paulistas de 1932 foi também sentida pelos setores negros que apostavam na Legião. No entanto, mesmo que o resultado daquelas batalhas fosse outro, eles continuariam sendo tratados como coadjuvantes. Continuariam derrotados, pois tornados invisíveis, os setores negros que tentavam a inserção política _ incluindo as dimensões partidárias_ nos debates sobre a cidadania.

Em matéria de abril de 1933, Guaraná de Sant’Ana fez uma avaliação dos episódios de 1932. Afirmou ter sido a “última e mais profícua das lições que a raça negra recebeu”. Após as batalhas, os soldados negros “ficaram pelas ruas da cidade amontoados como lixo humano”. Os “afagos” e “generosidades espetaculares” dos dias de contagiante mobilização tinham sido substituídos por “negativas formais”, e os “bons e ricos amigos da hora de luta” desapareceram. Falava-se mesmo em “decepções” e “tapeação”. (Negros e política p. 76 e 77).



Negros e política (1888-1937)
Autor: Flávio Gomes
1ª Edição
Editora: Jorge Zahar Editor – Rio de Janeiro, 2005


Os “Pérolas Negras” A Participação do Negro na Revolução Constitucionalista de 1932
Autor: Petrônio José Domingues
Revista Afro-Ásia, 29/30 (2003), 199-245